Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas...


quarta-feira, 28 de julho de 2010

QUINDINS NA PORTARIA

Muito bom esse texto da Martha Medeiros, mostrando que mesmo distantes podemos ficar juntos... Será?
Boa leitura!

"Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'.


Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura. Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário. Ah, pesa.


Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.


Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.


Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas.

Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.




Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço."

Texto: Martha Medeiros
Imagens: Net

2 comentários:

  1. Olá...
    Grata pela visita e comentário...
    Penso exatamente como Martha.
    Presença não requer "cola".
    Seria muito bom que algumas pessoas fossem dotadas desta sensibilidade.
    Como disse Leonardo da Vinci: "Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro".
    Infelizmente, nem todos entendem isso.
    Nos tempos de hoje as pessoas esquecem que temos problemas; que precisamos de privacidade; que algumas vezes precisamos dar um tempo e etc.
    Consigo sentir um abraço ofertado por e-mail. Vc não?
    Excelente post.
    Cheirinhos nordestinos e virtuais. Sinta-o. rsrs.

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  2. Detesto visitas inesperadas rs então tb nao faço pra ninguém...
    E vivo perto de pessoas que estão longes, por meio de diversos tipos de carinho.
    Concordo cm suas palavras ! E muitas vezes quem está mais próximo , são os que estão mais distantes...
    Beijos

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"Tu te tornas eternamente responsável
por tudo aquilo que cativas"
Beijokas