E A COPA ACABOU

Recebi um e-mail com um texto à respeito da Copa, achei interessante e resolvi postá-lo aqui :

Para surpresa de milhões de brasileiros, a Copa acabou. Acabou antes do fim, provocando um adeus fatídico, um adeus agônico, contundente, um adeus final. Ficou o amargo gosto de nossas bocas, vetando o grito de nossas paixões. Ficou a lágrima introvertida escorrendo por dentro e por fora; do outro lado do oceano, dois gols em silêncio, inesperados vilões de nossas fantasias, mancharam as nossas camisas escorrendo o azedume que driblou as nossas esperanças. Enfim, acenamos o adeus às ilusões, adeus aos goles duplos e ao besunte das tintas verde, amarela e azul pintadas no rosto, esperando que um gol elevasse todos os nossos sentidos patrióticos.

Ficou o barulho das vuvuzelas, antes algazarras, hoje não mais que sequelas. Ficou também a jabulani rolando pelos campos da memória, lá onde vão ficar sempre emplacados os tentos que fizemos e os gols que deixamos de fazer. Ficarão, sobretudo, os tentos que sempre se farão presentes no balanço triste de nossas redes, na angústia inerte de nossos leitos. Agora é voltar ao nosso chão, ver um Brasil acidentado, inundado, corrompido, quase ceifado pela brutal indecência dos que jogam um jogo sujo, com muitas faltas e poucos encantos.Ah! o nosso povo! O nosso povo sofrido que pintou o rosto de pátria para ver o Brasil jogar na África; que agora volta para o seu universo comum! Fazer o quê? No vazio, há sempre um espaço adequado para fazer desfilar as poucas alegrias e beber nas taças nacionais o vinho amargo, a água turva e os sonhos perdidos.De volta ao Brasil real, haveremos de ver também os que tomaram cartão vermelho na política brasileira, os fichas sujas. O time é imenso, os jogadores vestem um só padrão e são eficientes na tática do jogo e do conchavo das jogadas ensaiadas. E assim, com essa escalação, vamos perdendo ou vamos ganhando tempo. É, vamos vivendo e, às vezes, até desbotando as nossas vibratilidades, quando “botamos fé” em algo que amamos e terminamos vencidos, no exílio de nossas possibilidades. Aí, então, sentamos tristes num banco de praça, ou diante de um crepúsculo, ou mesmo numa sala de copa, onde chutamos os nossos prantos e os nossos lamentos, jogando conversa fora sobre as partidas que o mundo sempre nos prepara para o desafio de competir com ele mesmo.

(Amargo 2 de julho de 2010).

Autor: Saulo Mendonça

Imagem: Net